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Laura Vermont foi assassinada por policiais militares (Foto: Reprodução/Facebook/Laura Vermont) |
Lá se vai mais uma Laura, mais uma Melissa, mais uma Renata,
Marcela, Paula, Fabiana, Paola. Entre todos os vestidos, saltos, batons e
cabelos cumpridos, Laura foi a que mais lutou para conquista-los. Ela tomou
coragem, enfrentou o mundo, sofreu calada, tudo para se sentir apenas mais
feminina, mais ela.
Enquanto Laura batalhava dia a dia para poder usar uma roupa
de renda, um sutiã, brincos de argola e pintar as unhas das mãos, outras
pessoas só viam uma coisa: Laura era David.
E não importava se ela sentia-se bem como Laura, como
Renata, como Marcela. De nada valia enfrentar o mundo só para usar um conjunto
de roupas cor-de-rosa, de nada valia para ela se uma peça de vestuário era
sinônimo de bem estar, autoestima, de paz de espírito.
Tudo em vão, porque Laura era David.
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Laura Vermon (Foto: Reprodução/Facebook) |
E não foi por Laura que David morreu. Laura não era problema
para ninguém. Até o dia de sua morte ela poderia ser considerada “inexistente”.
Quem se importa com a Laura, com a Marcela, com a Paola? Quem se importa se é
travesti, se é transexual, se é transgênero?
Quem matou Laura foi David.
David assumiu a responsabilidade de ser quem realmente
queria ser. Ele queria ser autêntico, genuíno, legítimo. David era Laura, e
desde o dia de seu nascimento ele sabia que sua cruz era carregar o mundo nas
costas, a dor, a rejeição, os olhares de ódio, de nojo.
David não aguentou ser o estereótipo da sociedade, ele não
encontrou em si a paz que só Laura poderia lhe dar.
David desistiu de si para dar vida a Laura.
E os dois se completavam. E era assim que eles deveriam
viver, pois um completava o outro. E David e Laura não queriam ser ninguém mais
além do que eles realmente eram.
Laura não precisava ser outra pessoa e não queria os rótulos
dos outros. Laura era Laura, e não seria ninguém mais.
David e Laura eram o oposto. O paradoxo. O carma.
No chão, humilhada, odiada, discriminada, e sem vida. Laura
era perfeitamente igual a todo mundo. Um ser humano.
Descanse em paz, Laura.
Alexander Cesar
Um paulistano aspirante a jornalista. Bilíngue, social media e heavy user. Amo blogs, redes sociais, celular e quase nunca assisto televisão.Eu penso tanta coisa que seria egoísmo não dividir isso com alguém.
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